Descrita por profissionais da saúde como uma doença “silenciosa” e “perigosa”, estima-se que a diabetes esteja no dia a dia de mais de 320 mil capixabas, uma prevalência de aproximadamente 8% da população, considerando os dados da Federação Internacional de Diabetes de 2019.No “Cuidado à Saúde” desta semana, a Secretaria da Saúde (Sesa) apresenta os desafios da diabetes e explica por que é uma doença que precisa ser levada a sério, seja para quem a tem ou não.
A diabetes se caracteriza pela deficiência de produção e/ou de ação da insulina. “É uma doença metabólica que está relacionada à forma como o corpo humano metaboliza (ou transforma) os alimentos ingeridos em energia para se manter em funcionamento”, explica a endocrinologista do Centro Regional de Especialidades de Cachoeiro de Itapemirim, Ionara Guasti Deambrosio.
“Na linguagem médica, a doença é chamada de silenciosa, porque não apresenta sintomas. E assim é com a diabetes, perigosa e silenciosa devido ao fato de muitas vezes não ter sintomas por um tempo. O corpo não sente nada e as consequências do excesso de glicose no sangue podem demorar a aparecer, mas ao logo do tempo o acúmulo pode danificar órgãos e vasos sanguíneos, causando doenças cardíacas, renais e a necessidade de amputações, entre outros riscos”, alerta a profissional.
No Espírito Santo, de janeiro a julho de 2021, 2.102 pessoas foram internadas em hospitais da rede estadual por complicações da doença. E, até o início de outubro deste ano, 2.737 pacientes foram atendidos com medicamentos para tratamento da diabetes nas Farmácias Estaduais Cidadãs.
Segundo o médico pós-graduado com atuação nas doenças endócrinas e metabologia do esporte, Kaio Dantas, que atua no Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares, em São Mateus, a diabetes constitui um dos mais sérios problemas de saúde na atualidade. “Uma parte dos pacientes desconhecem ter diabetes e acesso à informação e aos recursos colaboram com os dados que demonstram a prevalência crescente dessa doença”.
E como levar a diabetes a sério? Para a Ionara Guasti Deambrosio é um exercício que pressupõe alguns caminhos importantes a serem seguidos, tanto para o paciente que já tenha o diagnóstico da doença ou não.
“Como os sintomas, muitas vezes, demoram a se manifestar ou a serem percebidos pelos pacientes, apesar de estarem lá, muitos não sabem que têm e estão mais sujeitos aos riscos e complicações da doença. Para o tratamento adequado, são necessárias mudanças no estilo de vida, prática de exercício físico, alimentação mais saudável, consultas e exames regulares, além do uso adequado do medicamento. E muitos não aderem a essas mudanças”, pontua.
Os tipos de diabetes
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, diversas condições podem levar à diabetes, porém a grande maioria dos casos está dividida em dois grupos: Diabetes Tipo 1 e Diabetes Tipo 2.
A Diabetes Tipo 1 é resultado da destruição das células beta pancreáticas por um processo imunológico, ou seja, pela formação de anticorpos pelo próprio organismo contra as células beta levando à deficiência de insulina.
Já na Diabetes Tipo 2, a insulina é produzida pelas células beta pancreáticas, porém sua ação está dificultada, caracterizando um quadro de resistência insulínica. Isso vai levar a um aumento da produção de insulina para tentar manter a glicose em níveis normais. Quando isso não é mais possível, surge a diabetes.
Entretanto, há também a diabetes gestacional, que é diagnosticada durante a gestação, que pode ser transitória ou não. Ao término da gravidez, a paciente deve ser investigada e acompanhada.
“A importância de diferenciar os tipos é que muda a forma de tratamento medicamentoso, porém não existe aquela que seja mais grave. Sempre digo que a maior gravidade é quando não se trata adequadamente, independentemente do tipo da doença”, pondera a endocrinologista Ionara Guasti Deambrosio.
Para o médio Kaio Dantas, a diabetes é também um fator de risco para outras doenças, com potencial fatal. “E podemos dividir as suas consequências em dois grupos: as complicações agudas da diabetes, que são importantes causas de morbidade e mortalidade; e as complicações crônicas, limitantes e incapacitantes, podendo também colaborar com outras causas de morte”.
Correria do dia a dia, falta de cuidado e estresse
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, 1 em cada 11 adultos tem diabetes; 1 em 2 adultos com diabetes não foi diagnosticado e; 2 em cada 3 pessoas com diabetes vivem em áreas urbanas.
São dados que ajudam a construir o perfil deste paciente e que indicam também que a correria do dia a dia pode trazer consequências à saúde, como explica a endocrinologista Ionara Guasti Deambrosio. “Nas últimas décadas, a doença tem se manifestado cada vez mais em jovens abaixo dos 30 anos, inclusive, em crianças e adolescentes”, afirma.
A endocrinologista destaca que isso está relacionado às mudanças no estilo de vida da população, sobretudo na alimentação. “Com a correria, cada vez mais se consome produto industrializados e Fast food. Além da falta de atividade física, com a população cada vez mais sedentária, e do estresse, que são fatores que vão influenciado no aumento do peso e proporcionado que o organismo desenvolva a resistência insulínica e, consequentemente, ao desequilíbrio da glicemia, somados ao histórico familiar.”
A alimentação precisa ser amiga e não vilã
O sucesso para a promoção da saúde passa pela alimentação adequada e saudável, em busca da melhoria da qualidade de vida da população. E ter uma alimentação saudável é caminho também para prevenção de doenças, como a diabetes.
Segundo a referência em Nutrição da Secretaria da Saúde (Sesa), Daniela Cornachini, uma alimentação equilibrada tende a trazer benefícios para toda a vida. “Ingerir alimentos naturais e reduzir o consumo de produtos industrializados fortalece a imunidade do corpo”, frisa.
Aos pacientes que com diabetes, a orientação é para que levem a alimentação como uma experiência benéfica. “O paciente com diabetes precisa seguir uma dieta por muitas vezes restrita, com contagem de carboidratos, o que inclui evitar bolos, doces, bebidas açucaradas, bebida alcoólica etc. Por conta disso, muitos pacientes preferem deixar de seguir a dieta e continuar com alimentação desregrada, o que pode levar a outras doenças. Mas quando esses pacientes têm acompanhamento médico e nutricional, conseguem ter uma vida normal, pois o importante é sempre controlar a glicemia”, informa a nutricionista.
E completa: “é ter uma alimentação equilibrada, reduzir o consumo de sal, açúcar e gorduras. Controlar o peso e não consumir bebida alcoólica, não fumar etc. O importante é a prevenção. Alimentação adequada, prática de atividade física, consultas médicas regulares.”
Sesa
Foto: Divulgação/Sesa