Nesta entrevista, conversamos com Luciana Fontana Costa, Psicóloga Especialista em Neuropsicologia e Intervenção ABA Aplicada ao TEA e DI, que atua na APAE de Vila Valério. Luciana compartilha conosco como a Instituição acolhe e compreende as necessidades específicas das pessoas com autismo em seu atendimento, as estratégias utilizadas para promover a inclusão social e a autonomia, o trabalho em parceria com as famílias e as ações realizadas para sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre o Autismo e a importância do atendimento especializado.
Confira a entrevista completa e conheça o trabalho inspirador da APAE de Vila Valério na promoção de uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Expresso Notícias – Como a APAE acolhe e compreende as necessidades específicas das pessoas com autismo em seu atendimento?
Luciana Fontana Costa – A partir do momento em que uma família busca pelos atendimentos ofertados pela Instituição, ela necessita ser Acolhida primeiramente pela Assistente Social, que é a pessoa de referência para direcionar a todos os outros serviços necessários. E somente a partir daí que ela inicia o próximo passo que é a Avaliação em Processo de Triagem com a Equipe Multidisciplinar, que nada mais é do que um novo acolhimento dessa demanda, e quando digo demanda é porque de fato é preciso que esse aluno/usuário faça parte do perfil de atendimentos da Apae, tendo assim um Laudo Diagnóstico de Deficiência Intelectual e/ou Múltipla ou Atraso Global do Desenvolvimento (ao que se refere ao Transtorno do Espectro Autista – TEA). Nesse processo de Triagem são coletadas pela equipe todas as informações pertinentes em relação às principais dificuldades enfrentadas pela família ao conduzir esse aluno/usuário tanto no contexto familiar, bem como, educacional ou outros contextos sociais, além de todo o histórico de desenvolvimento do mesmo, considerando inclusive, aspectos clínicos.
Portanto, após a equipe coletar essas informações, o aluno/usuário é devidamente avaliado pelos profissionais (pedagoga, assistente social e clínicos) ali presentes (se tiver 4 anos de idade completos, também será submetido a uma breve avaliação para compreender seu conteúdo pedagógico) evidenciando as habilidades já desenvolvidas e as dificuldades a serem trabalhadas em cada serviço.
Após esse processo a matrícula é efetivada e a nova família passa a fazer parte da Instituição, pois mesmo os serviços necessários sendo ofertados diretamente a esse aluno/usuário, ainda assim, a família também é acompanhada e orientada, principalmente pelo fato de garantir as necessidades básicas, dentre outros benefícios e se fazer efetivar os direitos da Pessoa com Deficiência.
Mesmo que todos os profissionais da Instituição estiveram presentes na Triagem, ainda assim, cada um realiza uma Avaliação Inicial dentro de sua atuação Profissional (Psicólogo, Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Professor de AEE) para que os objetivos sejam traçados e o processo evolutivo seja efetivo.
Expresso Notícias – Quais são as estratégias utilizadas para promover a inclusão social e a autonomia das pessoas com autismo atendidas na APAE?
Luciana Fontana Costa – Quando nos reportamos aos termos Inclusão Social e Autonomia, é porque de fato isso é imprescindível ao desenvolvimento das Pessoas com TEA, principalmente porque seus maiores déficits encontram-se na Comunicação Social e nos Padrões Repetitivos e Estereotipados de seus Comportamentos, o que acaba por prejudicar também suas habilidades para a realização de Atividades de Vida Diária (AVD’S) e o próprio Cuidado Pessoal, pois não é regra, mas algumas pessoas com TEA apresentam Deficiência Intelectual (dificuldade na aprendizagem de modo geral, por afetar seu Cognitivo), além de manifestar outras Comorbidades de modo tão intenso quanto (TOD, TDAH, TAG, dentre outros).
E visando dar-lhes cada vez mais autonomia/independência e para que sintam-se parte de uma sociedade como um todo, é preciso que compreendam que são acima de tudo, Seres Humanos, e aí onde entram as nossas Intervenções, estimulando habilidades necessárias para um desenvolvimento de modo saudável, em que as habilidades existentes em seu repertório possam ser aperfeiçoadas quando é preciso, e no caso das dificuldades evidenciadas que os “limitam em algumas condições ou tornam sua comunicação inadequada”, criam-se Planos Terapêuticos para melhorar suas habilidades e, estes são executados nos atendimentos e se necessário, é feita uma articulação e/ou orientação junto às famílias, pois o trabalho do profissional jamais será efetivo apenas no contexto institucional se não houver o engajamento e o compromisso das mesmas.
Expresso Notícias – Como a equipe da APAE trabalha em parceria com as famílias das pessoas com autismo para promover um atendimento mais humanizado e integrado?
Luciana Fontana Costa – A partir da avaliação que é feita pelo profissional com a finalidade de traçar os objetivos a serem trabalhados durante os atendimentos, ele realiza dentro de sua atuação as estimulações necessárias, e à medida que as evoluções acontecem ou não, o familiar responsável é orientado, fortalecendo sempre essa parceria. Além das orientações e/ou sugestões pertinentes ao que diz respeito ao desenvolvimento desse aluno/usuário, é papel do profissional acompanhar e manter-se informado sobre as condições que possuem relação com o acompanhamento médico especializado (Neurologista, Psiquiatra, dentre outras especialidades), bem como, a administração adequada dos medicamentos de uso contínuo, pois do contrário, quando a família não se engaja nessas imprescindíveis condições de saúde (para aqueles que de fato necessitam de tais condutas), fica difícil e inviabiliza todo o trabalho durante os atendimentos. Porque compreende-se que uma medicação por exemplo, não melhora por si só uma dificuldade comportamental, mas agrega melhora ao que diz respeito a fisiologia desse atendido, proporcionando e tornando possível essa evolução que de fato não acontece se não houver medicação e a conduta assertiva dessa família (imposição de limites, regras e rotina diária de atividades), principalmente em termos comportamentais, que atualmente têm sido uma grande dificuldade para todos os envolvidos nesse processo.
Expresso Notícias- Quais são as ações da APAE para promover a sensibilização e a conscientização da sociedade em relação ao autismo e à importância do atendimento especializado?
Luciana Fontana Costa – Lutar por Inclusão é algo que fazemos a todo o tempo, pois infelizmente uma parte da sociedade ainda não se permite conhecer e até mesmo compreender as particularidades das Pessoas com TEA, o quão incríveis são suas habilidades e modos únicos de ser, o quanto têm a nos ensinar. Outra condição a ser ressaltada, é que a cada dia que se passa mesmo a sociedade manifestando tanto preconceito e indiferença, sabemos que não podemos mudar o mundo à nossa volta, mas somamos nossas forças à dessas famílias que buscam pelos nossos serviços, e assim seguimos nessa luta intensa e diária. Pois acreditamos que se esses familiares se oportunizarem a conhecer e aprender junto com a gente a lidar com os desafios que provavelmente em algum momento chegam, com certeza tornaremos o mundo pelo menos um pouco melhor, fazendo a diferença e sentindo-se gratos por proporcionarmos às Pessoas com TEA qualidade de vida, autonomia e bem-estar.
Fotos: Arquivo Pessoal
Expresso Notícias
Receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no Espírito Santo! Clique aqui.