
O turismo de experiência tem se fortalecido no Norte do Espírito Santo com a valorização da produção artesanal do beiju, alimento tradicional das comunidades quilombolas do Sapê do Norte. Feito à base de mandioca, o beiju é produzido com técnicas transmitidas entre gerações desde o século XIX, preservando saberes e práticas ancestrais da região.
O produto recebeu, em agosto de 2024, o selo de Indicação Geográfica (IG) concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), reconhecimento que reforça a autenticidade e a qualidade do beiju e contribui para a valorização cultural do território. O selo também impulsiona o turismo cultural, atraindo visitantes interessados em acompanhar todo o processo de produção, desde o plantio da mandioca até a fabricação manual nas casas de farinha, conhecidas como quitungos.
A ideia é que a experiência na região inclua vivências como rodas de conversa, participação em práticas tradicionais e contato direto com a cultura quilombola. Cerca de 21 famílias estão diretamente envolvidas na produção do beiju e veem no turismo uma alternativa de geração de renda e de preservação cultural.
A presidente da Associação das Produtoras de Beijú do Sapê do Norte, Domingas Verônica, destaca que a chegada dos turistas tem ampliado a visibilidade da cultura local e fortalecido a economia da comunidade. Segundo ela, a tradição do beiju, antes restrita ao ambiente familiar, agora poderá ser compartilhada e valorizada por meio do turismo.
ROTA TURÍSTICA – A atividade integra o Projeto Rota Quilombola, desenvolvido pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES), e abrange os municípios de Conceição da Barra, São Mateus e Jaguaré. A iniciativa teve início em 2024 com o Roteiro Negro Rugério, em Conceição da Barra, e segue em desenvolvimento. Para 2025, está previsto o diagnóstico do Roteiro dos Quitungos, com foco especial na região de Itaúnas.
De acordo com Gianni Fagundes, analista do Sebrae/ES na região Norte, o projeto visa promover uma transformação sustentável das comunidades quilombolas, com impactos econômicos, sociais e culturais. A proposta é incentivar o empreendedorismo, a oferta de produtos turísticos autênticos e experiências de base comunitária, como culinária típica, artesanato, agroecologia e manifestações culturais.
A analista ressalta ainda que a valorização dos saberes tradicionais fortalece o sentimento de pertencimento das famílias, contribui para sua permanência no território e estimula a preservação ambiental. “O turismo de experiência, cada vez mais procurado por visitantes, agrega identidade ao destino, amplia o tempo de permanência dos visitantes e diversifica a oferta turística além do tradicional turismo de sol e praia”, afirma.
Mesmo em fase inicial, a Rota Quilombola já tem estimulado a criação de pequenos negócios e o fortalecimento de associações nas comunidades. Segundo o Sebrae, há um aumento na procura por capacitações e melhorias de gestão, além do crescimento de empreendimentos formais e coletivos, com oferta de alimentação típica, artesanato identitário, produtos agroecológicos e serviços de apoio ao turista.
O secretário de Estado do Turismo, Victor da Silva Coelho, destaca que o Norte capixaba tem recebido atenção especial do governo estadual em razão de sua diversidade natural e riqueza cultural. Segundo ele, terão mais investimentos em infraestrutura turística e valorização de roteiros culturais e comunitários.
O secretário afirmou que cidades como Conceição da Barra, São Mateus, Linhares e Pedro Canário têm recebido apoio para qualificação de serviços e promoção de seus atrativos. A meta é consolidar a região como um destino turístico completo, que ofereça cultura, natureza e tradição.
Texto: Bruno Caetano