
A conservação das sementes crioulas — aquelas mantidas, selecionadas e adaptadas pelos agricultores ao longo de gerações — ganhou destaque em Águia Branca, região noroeste do Espírito Santo. Na última sexta-feira (31), o município sediou o Seminário “Bancos Comunitários de Sementes e a Conservação das Variedades Crioulas: troca de sementes e saberes para promover a agrobiodiversidade”, voltado à valorização da diversidade agrícola e cultural capixaba.
O encontro reuniu escolas, produtores rurais e instituições públicas com o objetivo de fortalecer redes de guardiões das sementes e incentivar o intercâmbio de conhecimentos e materiais genéticos adaptados aos agroecossistemas locais.
O evento foi promovido pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em parceria com o Centro Estadual Integrado de Educação Rural (CEIER) de Águia Branca, a Escola Municipal Comunitária Agrícola (EMCA) João Quiuqui, o Instituto IPE e a Secretaria Municipal de Educação. Durante as atividades, realizadas na EMCA, agricultores e estudantes levaram sementes crioulas de milho, arroz, feijão, abóbora e pimentas para exposição e troca.
Nos espaços das instituições participantes, houve distribuição de sementes, livros e materiais educativos, além de rodas de conversa sobre qualidade, manejo e conservação. Os debates reforçaram a importância de preservar o patrimônio genético e cultural das comunidades rurais, essencial para a autonomia dos agricultores, a segurança alimentar e a manutenção da agrobiodiversidade.
O Incaper distribuiu sementes de milho ES-204 Imperador, a primeira variedade do Estado desenvolvida especialmente para sistemas agroecológicos. O material se destaca pela produtividade e resistência a doenças, representando uma alternativa sustentável e rentável para agricultores familiares.
A programação contou ainda com palestra da pesquisadora Rosenilda de Souza, do Incaper, que abordou estratégias comunitárias de conservação da agrobiodiversidade. Um dos momentos mais marcantes foi a leitura de uma carta escrita por uma produtora guardiã, que relatou a trajetória de suas sementes e o valor simbólico que elas representam para a comunidade.
O seminário também ressaltou o protagonismo estudantil. Alunas do CEIER de Águia Branca atuaram como repórteres do projeto CEIER Rural, entrevistando palestrantes, agricultores e gestores. As reportagens serão compartilhadas nas escolas e nas redes locais, ampliando o alcance do tema e estimulando o engajamento dos jovens na preservação das sementes crioulas.
Ao final do evento, foi firmado um Termo de Compromisso e Reconhecimento, oficializando o CEIER de Águia Branca e a EMCA João Quiuqui como guardiões institucionais de sementes crioulas. O documento estabelece responsabilidades conjuntas, como a manutenção de coleções-base, registros comunitários, calendário anual de trocas e articulação contínua com o Incaper e parceiros.
“Cada semente conservada carrega o futuro: nutre a nossa mesa e também a nossa história. Ver escolas, produtores e instituições caminhando juntos mostra que a agrobiodiversidade se fortalece na colaboração”, destacou o pesquisador do Incaper e organizador do evento, Ismael Lourenço de Jesus Freitas.
Por Conexão Safra




