Por ALESSANDRA FERRARI PIASSAROLLO
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Outro dia, um senhor chamou minha atenção. Sentado próximo à mesa na qual eu me encontrava, tínhamos o plano coincidente de almoçar no mesmo restaurante, do tipo self service. Ele me surpreendeu ao chamar a garçonete e indagar como funcionava o almoço: se ele mesmo poderia servir-se ou se ela o faria para ele.
Que coragem! -eu pensei. Deixada de lado a vergonha por não saber como proceder para fazer a refeição, ele ocupou-se apenas com sua fome e ignorou meu olhar curioso. À resposta de que ele mesmo poderia servir-se, ele recusou. Disse que preferia que ela mesma o fizesse porque ele não gostava de servir-se.
A garçonete se foi, a fim de cuidar da missão que lhe foi confiada. Eu ainda tentava digerir aquela cena de coragem recém presenciada.
O mais provável, a julgar por sua conduta um tanto acanhada, é que ele tinha pouca ou nenhuma experiência com restaurantes. Mas aquilo não o impediu de entrar, sentar-se e dar um jeito na fome que o incomodava.
Por que não aprendo com ele?- pensei. Por que não me arrisco assim, sem tanto medo de errar? De súbito tentei enumerar quantas vezes deixei de fazer algo por receio de passar vergonha, por medo de fazer feio ou não conseguir.
Lembrei-me de quando era criança e deixei de experimentar um salgadinho porque tinha palitos de dente espetados nele e eu me perguntava o que faria com eles. Agora, tantos anos depois, a resposta me veio de assalto, quando eu já não esperava mais por ela. Coragem foi o que me faltou naquele dia: pra descobrir como fazer e pra admitir que eu não sabia mas que precisava me arriscar.
Abri mão de muitas outras coisas, desde o episódio do salgadinho. Enterrei muitas vontades por não saber o que fazer com elas. Deixei de viver muitos momentos, por ignorar o fato de que tentar é a atitude mais importante de todas.
Talvez eu devesse ter aprendido isso antes; deveria ter entendido que ninguém nasce sabendo. Poderia ter confiado naquele ditado “quem não se arrisca, não petisca” que me disseram a vida toda. Arrisquei-me muito menos do que poderia e aprendi menos, por consequência.
Deixei de ir a lugares, de conhecer pessoas e de viver mil coisas por não saber o que faria, o que diria, o que aconteceria.
Eu ali, ao lado daquele senhor cheio de coragem, planejei agir com mais acerto na próxima vez em que o receio batesse à minha porta. E quando achei que a ousadia já ia adiantada, ouvi sua resposta à pergunta da garçonete, sobre beber alguma coisa: – Um copo de leite, por favor!
A coragem dele era algo incomum- pensei, agora com perplexidade. Tenho mesmo muito a aprender nessa minha vida.