ESPECIAL – Macacos da espécie Sagui-de-cara-branca invadem a área urbana de Nova Venécia

OS BICHOS costumam aparecer em bandos.

Nas florestas da região Sudeste, os macacos saguis são comuns. Nas matas do Espírito Santo e de Minas Gerais, é fácil encontrar o sagui-da-serra. No entanto, os bichos podem ser cada vez mais vistos em grande número também nas áreas urbanas. E em Nova Venécia, o sagui-de-cara-branca pode ser visto em qualquer lugar.
O macaco sagui pertence ao gênero Callithrix, que é composto por 6 espécies presentes no Brasil; são pequenos primatas facilmente adaptáveis às cidades.
A reportagem do Correio9 conversou com moradores de diferentes bairros de Nova Venécia onde os bichos aparecem. Aliás, eles aparecem diariamente nas árvores nas imediações da Redação do jornal (no Bairro Filomena), especialmente na parte de trás do prédio, ou então, caminhando sobre os fios entre um poste e outro.
MORADORES FALAM

O professor e historiador Rogério Frigério Piva lembrou de que eles começaram a aparecer há algum tempo: “Eu sou professor da Escola Dr. Adalton Santos (Polivalente) desde 2012, e lembro de que desde essa época que a gente via os macacos saguis lá. Realmente, parece que agora eles estão mais audaciosos, perderam o medo das pessoas”, disse.

Para o professor, que também é um observador da natureza, a pandemia do novo coronavírus pode ter contribuído para a invasão dos animais: “Eu acho, também, que por causa da pandemia, as pessoas ficaram mais reclusas e os animais ganharam mais espaço. Aqui na região do Córrego da Serra, no início do asfalto, a gente sempre vê o sagui. Moro aqui desde 2012, mas frequento muito a região há mais tempo. E lá no Polivalente, além do sagui, tem gambá. Agora eles não entram nas salas porque foi colocado o forro no teto, mas por várias vezes durante a aula eles – até famílias inteiras de gambás – passavam pelos caibros. Os alunos ficavam com medo, gritavam e eu dizia (aos risos): fiquem calmos, eles estão em casa, estão querendo assistir à aula também”.
A aposentada Leontina Dadalto também falou sobre a invasão dos macaquinhos. Ela, que mora há quase cinco décadas na Travessa Colatina (próximo à ponte), no Centro de Nova Venécia, disse que os primatas surgiram há alguns anos no local: “Eu sempre morei aqui e antes eu nunca tinha visto macacos; agora, de uns quatro anos para cá, eles aparecem diariamente, com maior intensidade nesses últimos meses. São em torno de 30 e vêm de manhazinha ou no fim da tarde. Tenho um pé de jambo no quintal de casa, e quando os frutos estão maduros, eles comem tudo”, revelou.
Leontina contou que constantemente é surpreendida com os bichos dentro da sua residência: “Uma vez eu avistei o rabo do macaco embaixo da minha televisão, na sala, e pensei que fosse uma cobra. Cheguei a ligar para o Corpo de Bombeiros pedindo ajuda. Logo depois, percebi que se tratava de um sagui, desses da carinha branca. E na verdade, não havia somente um, eram oito macacos dentro da minha sala. No mesmo instante estava passando uma viatura policial na rua, e eu também pedi ajuda aos militares. Eles retiraram os animais do lugar. Mesmo assim, depois disso, continuam aparecendo direto. Eu acho que eles são bonitinhos, mas os pilantrinhas sempre roubam minhas frutas em cima da mesa”, ri a aposentada, que também destaca a presença de gambás e capivaras em seu quintal.
O empresário Marcos Alves Sebin também tem contato com os animais: “Eles andam aqui todos os dias na área verde de reflorestamento que o Cerimonial D’Venézia fez nos fundos, à margem do Rio Cricaré, que corresponde a uma área de 3 mil metros quadrados. Eles andam em grupos de 12, 14… e a gente alimenta fornecendo bananas”, explicou.

O ANIMAL posa para foto no Bairro Filomena.

A arquiteta Bárbara Sacconi Gasparini, moradora da Rua Aymorés, no bairro Filomena, tem uma coleção de fotos das visitas que sua família recebe diariamente dos saguis: “Eles aparecem em bandos – com maior intensidade desde dezembro de 2020 – normalmente, na hora do café da manhã e na hora do almoço. Eles não entram em casa por causa da cortina de vidro. A gente coloca bananas no muro e eles comem. Tem mães que aparecem com os filhotinhos”, disse ela.

Os saguis têm sido vistos em vários bairros. Eles aparecem no São Cristóvão, Centro, Margareth, Monte Castelo, Aeroporto, Rúbia, e muitos outros. E não é só em Nova Venécia, em outros municípios também, como Aracruz, Linhares e Conceição da Barra.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A reportagem do Correio9 conversou com o biólogo Isael Colonna Ribeiro (mestre em Tecnologias Sustentáveis/IFES e doutorando em Biologia Vegetal/UFES), especialista em primatas, para saber sobre a invasão de áreas urbanas pelos animais. Ele explicou que o sagui-de-cara-branca, Callithrix geoffroyi é uma espécie de primata até comum em ambientes urbanizados.
BIÓLOGO Isael conversou com o jornal Correio9.

De acordo com ele, os saguis podem habitar ambientes urbanos: “Alguns motivos os fazem ir para as cidades, os principais são: destruição e perda do ambiente natural (minha família é de Nova Venécia e sei que aí há cultivo de café e pimenta, pecuária e mineração de rochas ornamentais, atividades de destaque, que para serem desenvolvidas necessitam modificar o ambiente original). Além disso, esses primatas muitas vezes encontram recursos alimentares em áreas urbanas; na foto mesmo que o Correio9 me enviou estão sendo alimentados por uma pessoa”.

De acordo com ele, os saguis não costumam atacar, mas podem morder e arranhar se forem segurados. A orientação é não alimentá-los. “Os animais devem encontrar o alimento seguindo seus instintos. Quando oferecemos comida fácil podemos dificultar a vida futura desses animais em ambiente selvagem”, esclareceu.
Além disso, ele alerta que as cidades são lugares “perigosos”: “Rede elétrica, carros, animais domésticos, entre outras armadilhas podem representar um risco potencial para esses pequenos macacos”. É comum vê-los caminhando sobre fios.
Isael lembra que na cidade do Rio de Janeiro existem estudos com esses animais em áreas urbanas, e em Vitória também: “São muito comuns na UFES”.
Os maiores predadores dos saguis são os cachorros domésticos (que atacam quando eles se aproximam do solo) e o homem que os matam por geralmente invadirem as residências e roubarem frutas e durante esse processo quebram objetos ao passarem pela cozinha e ocasionalmente defecam dentro das casas.

VEJA FOTOS DOS MACAQUINHOS NO CERIMONIAL D’VENÉZIA:

Correio9
Fotos: Divulgação/Elias de Lemos (Correio9)







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