Polarização afetiva é fenômeno que veio para ficar – Leia o artigo escrito por Darlan Campos

 

Você sabe o que é polarização afetiva? O fenômeno está mais presente do que nunca no contexto eleitoral. E em 2024, com o desenvolvimento das tecnologias de inteligência artificial, o cenário poderá se transformar em um campo de guerra, com mentiras e conteúdos falsos por todos os lados. Neste sentido, perde a democracia.

Segundo o analista de comportamento, Tiago Garrido, polarização afetiva é quando os sentimentos negativos por um político superam as emoções positivas em relação a outro. Em outras palavras, quando os eleitores votam CONTRA um candidato. Já o especialista em pesquisas de opinião, Felipe Nunes, acrescenta que a identificação de cada um com seu grupo ideológico também cresce, formando bolhas onde todos pensam igual.

Nas eleições de 2022, muita gente votou no Lula para tirar o Bolsonaro do poder. Mas também boa parte dos eleitores votaram no Bolsonaro para que o Lula não ocupasse a presidência novamente. Neste ambiente, o outro político não é seu adversário, mas seu inimigo.

Essa polarização tem efeito cascata sobre a população, afastando cada vez mais os apoiadores de diferentes campos políticos. Para se ter uma ideia, em 2022, uma pesquisa feita pela Quaest mostrou que 11% dos eleitores romperam relações familiares ou de amizade por causa de política. Além disso, 48% dos apoiadores do Lula e 33% dos de Bolsonaro afirmaram que ficariam infelizes caso um filho se casasse com um militante da outra ideologia política.

Fenômeno mundial

Para além do exemplo, a polarização afetiva está longe de atingir apenas o Brasil. Nos Estados Unidos, que terá eleições para presidência no próximo ano, republicanos e democratas estão cada vez mais distantes e reclusos em suas bolhas. Esse foi o tema de um artigo de 2020, mas ainda atual, que mediu a polarização em vinte países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), grupo do qual o Brasil não faz parte.

Segundo o estudo, os Estados Unidos tiveram o maior crescimento na polarização entre os casos analisados. Além disso, apenas seis países apresentaram queda no índice.

Neste sentido, uma pesquisa do Pew Research Center mostrou que, em 2022, 72% dos republicanos consideravam os democratas “imorais” e “desonestos”. Mas em 2016, esse índice era de 47% e 45%, respectivamente. Já no caso dos democratas, a maior percepção sobre os republicanos é de que são “cabeças-duras”. Em 2022, esse índice foi de 83%, e em 2016, 70%.

Essa polarização divide até as universidades americanas em políticas opostas, entre quem pode frequentar as instituições, se os alunos se sentem bem-vindos e o que é ensinado. Por exemplo, na Flórida, os republicanos buscam eliminar programas de diversidade e limitar o ensino de conceitos como “teoria crítica de raça” e “teoria radical do gênero”. Somado a isso, as universidades do estado exigem pontuação alta em vestibulares como o SAT, o que pode afastar jovens que não tiveram oportunidade de estudar em escolas melhores (e mais caras).

Para efeito de comparação, as universidades públicas da Califórnia ignoram a pontuação nos vestibulares e adotam políticas de inclusão. No estado, os estudos de gênero ainda não estão sob ameaça. Essa dinâmica pode agravar ainda mais a polarização nos Estados Unidos, criando um ciclo vicioso de ódio entre democratas e republicanos.

Bolhas de informação

Além da educação, a polarização afetiva também influencia o consumo de notícias. O novo público não aceita mais conteúdo apenas informativo. Diante disso, os canais de notícias são cada vez mais opinativos. Isso explica o crescimento de produtos com linha editorial voltada à esquerda ou à direita.

Fato é que, neste ambiente polarizado, o público escolhe assistir, ler ou ouvir aquilo que corrobora com seus valores políticos. De volta ao exemplo dos Estados Unidos, 93% dos republicanos afirmaram que sua fonte principal de notícias é a Fox News, que costuma defender pautas conservadoras. Já no caso dos democratas, 91% consome principalmente o The New York Times, que declarou apoio a Biden na última eleição presidencial. No Brasil, não é diferente. Aqui as emissoras Jovem Pan e GloboNews também possuem audiência com ideologias contrárias.

Mas o problema é quando os eleitores passam a consumir fake news, sem fonte confiável, apenas pelo desejo de estarem certos, sintoma da polarização afetiva. E neste contexto, estudiosos defendem que as fake news têm poder de mobilização, e não de persuasão. Isto é, elas não visam convencer ninguém, mas corroborar com opiniões pré-definidas, para engajar as pessoas daquele campo político.

Por exemplo, se uma pessoa desconfia da segurança das urnas eletrônicas, receber uma notícia falsa que vai de acordo com sua ideia pode satisfazer seu desejo de estar certa. E assim, ela envia o conteúdo para outros apoiadores do mesmo campo político.

Outro exemplo, se uma pessoa movida por sentimentos negativos contra Bolsonaro receber provas infundadas de que a facada sofrida pelo ex-presidente foi falsa, logo compartilhará o conteúdo com outros militantes.

 

Guerra de narrativas

Com o desenvolvimento das ferramentas de inteligência artificial, que podem gerar até vídeos que nunca aconteceram, as fake news terão ainda mais poder de mobilização. Esse será um dos desafios da eleição do próximo ano. Vale notar que, embora o fenômeno possa acontecer em menor escala aqui no Brasil, os Estados Unidos experimentarão esses novos instrumentos na disputa entre Biden e Trump – ou outros representantes dos democratas e republicanos.

No Brasil, cabe aos candidatos fortalecer ainda mais suas imagens políticas e se preparar para desmentir conteúdos falsos. Nesse sentido, devem investir em boas estratégias de comunicação. Para um político, sua reputação é bem precioso.

Comece a fortalecer sua imagem desde já!

 


VOCABULÁRIO: Entenda as diferenças entre polarização política, social e afetiva

Polarização política: Esse é um fenômeno que sempre existiu, mas fica limitado às elites políticas, e não afeta as relações interpessoais do resto da sociedade. É quando o político de outro campo político é visto como adversário.

Polarização social: Neste caso, a disputa política até chegar na sociedade, mas fica dentro da disputa regulamentar.

Polarização afetiva: É quando os políticos de diferentes ideologias deixam de ser adversários para se tornarem inimigos. Neste conceito, existe a disputa entre o “bem” e o “mal”, e a sua sobrevivência depende da derrota do outro.

Darlan Campos – Foto: Arquivo Pessoal
Darlan Campos é consultor em marketing político, escritor e professor.
Autor dos livros: “Nas ruas e nas redes – estratégias de marketing político”, publicado pela editora Soares/SP, lançado em 2017 e “Marketing Político – construção de candidaturas vitoriosas”, lançado pela editora Lexia/SP, em 2020 e também é um dos autores e organizador só livro Marketing Político no Brasil, lançado em 2022, pela Geração Editorial/SP.
Diretor-executivo da República Marketing Político e membro fundador do CAMP (Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político).

Confira outros artigos em www.republicamarketingpolitico.com.br

Compartilhe

Receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no Espírito Santo! Clique aqui.

CONTINUE LENDO